Dois navios de guerra iranianos atracaram no Rio de Janeiro no domingo, depois que o Brasil concedeu permissão, apesar da pressão dos EUA para impedi-los.
Israel alertou o Brasil de que era perigoso permitir que dois navios de guerra iranianos atracassem no Rio de Janeiro, observando que a presença deles no sul do Oceano Atlântico era um “desenvolvimento perigoso e lamentável”.
“Ainda não é tarde demais para ordenar que os navios deixem o porto”, afirmou o Ministério das Relações Exteriores na quinta-feira em um comunicado conciso.
Os navios fazem parte da marinha iraniana que trabalha com a frota da Guarda Revolucionária Islâmica, que é uma entidade terrorista designada pelos Estados Unidos, disse o Ministério das Relações Exteriores.
O governo Biden emitiu sanções específicas contra os navios e sua localização geográfica na América Latina os coloca a apenas um continente de distância da costa dos Estados Unidos.
O porta-voz do Departamento de Estado dos EUA, Ned Price, disse na quarta-feira que o governo Biden queria garantir que o “IRGC – que o Irã de maneira mais ampla não seja capaz de adquirir uma posição, não seja capaz de tirar vantagem de outros neste hemisfério”.
“Certamente não é o caso que o governo brasileiro ou o povo brasileiro gostariam de fazer qualquer coisa que, por sua vez, ajudasse um governo, um regime que é responsável por uma brutal repressão e repressão violenta contra seu próprio povo”, disse. disse Price.
Autoridades americanas denunciam reaproximação do Brasil com o regime terrorista iraniano
— Leandro Ruschel (@leandroruschel) March 1, 2023
O senador americano Ted Cruz, do Partido Republicano, lançou dura nota contra governo Lula, a quem chamou corretamente de "chavista", alinhado contra os EUA e seus interesses.
O protesto… https://t.co/ncE2KEdKg1 pic.twitter.com/g9OHxbpw48
Autoridades israelenses a caminho de Washington
O conselheiro de Segurança Nacional de Israel, Tzachi Hanegbi, e o ministro de Assuntos Estratégicos, Ron Dermer, devem viajar a Washington na próxima semana para discutir o Irã com o governo Biden.
A viagem, que foi relatada pela primeira vez pela organização de notícias israelense Walla, ocorre antes da reunião do conselho da Agência Internacional de Energia Atômica em Viena em 6 de março, órgão em que os EUA ocupam um dos 35 assentos.
Israel tem se unido cada vez mais a seus aliados ocidentais, particularmente os Estados Unidos, por causa de sua preocupação conjunta com a execução iraniana de manifestantes de rua e o enriquecimento de urânio de Teerã em 84%, o que está próximo dos 90% necessários para a produção nuclear de armas.
O chefe da AIEA, Rafael Grossi, deve visitar o Irã na sexta-feira, de acordo com a agência de notícias semioficial Fars, para explorar os relatórios sobre urânio enriquecido.
O governo do primeiro-ministro Benjamin Netanyahu tornou uma prioridade interromper o programa nuclear do Irã e pressionou em particular para influenciar os países a seguirem o exemplo dos EUA em designar o IRGC como uma entidade terrorista.
Ao se pronunciar sobre a atracação dos navios iranianos na quinta-feira, o Itamaraty disse: “O Brasil não deve conceder nenhum prêmio a um Estado maligno, responsável por inúmeras violações de direitos humanos contra seus próprios cidadãos, executando ataques terroristas em todo o mundo e proliferação de armas para organizações terroristas em todo o Oriente Médio.
“O regime iraniano executou dezenas de ataques terroristas contra navios, colocando em perigo a liberdade de navegação marítima. Dois dos ataques ocorreram nas últimas semanas”, afirmou.
“Este é o momento de seguir os passos dados pela UE, EUA, Canadá, Austrália, Japão e muitos outros países, e destacar o regime iraniano como o que realmente é: uma entidade terrorista”, afirmou o Ministério das Relações Exteriores.
Lula concede permissão para atracação de navios de guerra do Irã
O governo do presidente brasileiro Luiz Inácio Lula da Silva havia concedido permissão para os navios atracarem, apesar da pressão dos Estados Unidos para impedi-los.
Os navios de guerra IRIS Makran e IRIS Dena chegaram na manhã de domingo, informou a autoridade portuária do Rio em comunicado.
A Reuters informou no início deste mês que o Brasil cedeu à pressão dos EUA e recusou o pedido do Irã para que os navios atracassem no Rio no final de janeiro, em um gesto de Lula quando ele voou para Washington para se encontrar com o presidente dos EUA, Joe Biden.
No entanto, com a viagem de Lula encerrada, os navios foram liberados para atracar. O vice-almirante Carlos Eduardo Horta Arentz, subchefe do Estado-Maior da Marinha do Brasil, autorizou a atracação dos navios no Rio entre 26 de fevereiro e 4 de março, segundo nota publicada em 23 de fevereiro no Diário Oficial da União.
A Embaixada dos EUA em Brasília não respondeu imediatamente a um pedido de comentário.
A Marinha do Brasil autoriza uma embarcação estrangeira a atracar no Brasil, mas somente após autorização do Itamaraty, que leva em consideração o pedido e a logística da embaixada solicitante.
A presença dos navios de guerra iranianos na costa brasileira continua a incomodar os Estados Unidos, que buscam estreitar os laços com o governo Lula, que assumiu em 1º de janeiro.
Em entrevista coletiva em 15 de fevereiro, a embaixadora dos Estados Unidos, Elizabeth Bagley, pediu ao Brasil que não permitisse a atracação dos navios.
“No passado, esses navios facilitavam o comércio ilegal e atividades terroristas, e também foram sancionados pelos Estados Unidos. O Brasil é uma nação soberana, mas acreditamos firmemente que esses navios não devem atracar em lugar nenhum”, disse ela.
A diplomacia com o Irã foi um dos destaques das tentativas de Lula de fortalecer a posição internacional do Brasil durante seus mandatos presidenciais anteriores. Ele viajou para Teerã para se encontrar com o então presidente Mahmoud Ahmadinejad em 2010, quando ele buscava intermediar um acordo nuclear entre o Irã e os Estados Unidos.
Publicado em 02/03/2023 19h54
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