Advogado pede exclusão de judeus da diretoria do IAB

Hariberto de Miranda

#Semitismo 

Ao mover processo por repúdio a declarações, instituto classificou as falas de Hariberto de Miranda como ‘antissemitas’ e ‘discriminatórias’

O advogado Hariberto de Miranda Jordão Filho pediu a remoção de todos os judeus da presidência do Instituto dos Advogados Brasileiros (IAB), na quarta-feira 20. Em razão disso, o IAB abriu um processo administrativo contra Filho, no dia seguinte.

A declaração ocorreu durante a sessão ordinária da entidade. Filho disse querer evitar futuras “imundices de judeus, sionistas ou não”.

O advogado foi à tribuna repudiar um processo ético-disciplinar movido contra ele pela Federação Israelita do Rio de Janeiro (Fierj) na OAB. Filho se defendeu, ao dizer que não cometeu “qualquer violação profissional” e que “canalhas, sionistas e covardes”, em referência aos judeus, não têm “capacidade mental e jurídica de oferecer a denúncia no foro próprio”.

Em outro momento, o advogado disse que a Fierj deveria fechar as portas por ser “antidemocrática” e só reunir “fascistas, evangélicos e bolsonaristas, que nada tem a ver com o IAB”.

Em nota aos associados, o presidente da entidade, Sydney Limeira Sanches, disse repudiar “veementemente” as declarações de Miranda contra os judeus, na sessão. Sanches afirmou se solidarizar com todos os judeus e aqueles ofendidos em suas crenças.

IAB classifica como “discriminatórias” falas de advogado contra judeus

Em resposta, a entidade afirmou que o episódio é “lamentável”, além de classificar as falas de Miranda como “discriminatórias e antissemitas”.

“O IAB lamenta tais ações, que não só violam os princípios fundamentais que orientam a instituição, mas também ferem a dignidade de todos os envolvidos direta ou indiretamente com a triste fala proferida”, afirmou o IAB, em nota.

Em outro trecho, o advogado afirmou que “seus detratores” não sabem lições de geografia e história. “Os judeus deixaram só a crucificação de Jesus Cristo”, disse Miranda. “Porque nem o muro das lamentações é dele, construído por Herodes pai e filho, ambos não judeus.”

Além do procedimento administrativo, o IAB avalia ingressar com ação por danos morais contra o advogado e informar o Ministério Público (MP) sobre o caso.

IAB abre processo contra advogado que defendeu expulsão de judeus da entidade

Nota do IAB

“O IAB foi confrontado com um episódio lamentável, no qual foram proferidas palavras discriminatórias e antissemitas por seu membro Hariberto de Miranda Jordão Filho contra integrantes da Diretoria, presidentes de Comissão e do quadro associativo. O IAB lamenta e abjura tais ações, que não só violam os princípios fundamentais que orientam a instituição, mas também ferem a dignidade de todos os envolvidos direta ou indiretamente com a triste fala proferida”, disse o IAB em nota.

“Em conformidade com os princípios estabelecidos em nosso estatuto, o IAB reserva-se ao direito de iniciar procedimento administrativo contra qualquer membro que viole seus preceitos estatutários, como sói ocorre no caso concreto, posto que tais medidas servirão para garantir a integridade e a reputação do IAB, como também assegurar o efetivo cumprimento de seus valores fundamentais”, prossegue o texto, que é assinado pelo presidente da entidade.

Além do procedimento administrativo, o IAB estaria avaliando ingressar com ação por danos morais contra o advogado e de enviar informar o Ministério Público sobre o ocorrido.

Leia a nota do IAB:

O Instituto dos Advogados Brasileiros, comprometido com seus desígnios históricos na construção de um mundo mais justo, solidário e humano, reitera o seu compromisso com os princípios de respeito mútuo e repúdio a quaisquer ações e falas discriminatórias, racistas ou antissemitas no âmbito de sua comunidade associativa.

Como confreiras e confrades dedicados ao avanço da sociedade democrática e à construção de um ambiente associativo inclusivo e justo, é imperativo que mantenhamos padrões elevados de conduta em todas as nossas interações, sejam elas pessoais, profissionais ou associativas.

As violações a esses primados de convivência, estabelecidos em nosso Estatuto, devem ser tratadas com rigor e seriedade, como forma de preservar a instituição e seu quadro social.

Nesse sentido, ontem (20/03/2024) em sua sessão plenária, o IAB foi confrontado com um episódio lamentável, no qual foram proferidas palavras discriminatórias e antissemitas por seu membro Hariberto de Miranda Jordão Filho contra integrantes da Diretoria, presidentes de Comissão e do quadro associativo.

O IAB lamenta e abjura tais ações, que não só violam os princípios fundamentais que orientam a instituição, mas também ferem a dignidade de todos os envolvidos direta ou indiretamente com a triste fala proferida.

O IAB se solidariza com todos os judeus e aqueles ofendidos em suas crenças e, em especial, manifesta apoio e solidariedade aos Diretores Arnon Velmovitsk e Paulo Maltz, e aos presidentes das comissões de Direitos Humanos e de Criminologia, Carlos Schlesinger e Marcia Dinis, esta também Diretora de Biblioteca, atingidos pessoalmente e de forma grave, repudiando veementemente os impropérios ditos na referida sessão, devidamente condenados por todos os presentes.

}Em conformidade com os princípios estabelecidos em nosso estatuto, o IAB reserva-se ao direito de iniciar procedimento administrativo contra qualquer membro que viole seus preceitos estatutários, como sóocorre no caso concreto, posto que tais medidas servirão para garantir a integridade e a reputação do IAB, como também assegurar o efetivo cumprimento de seus valores fundamentais.

O IAB renova seu compromisso com a construção de um ambiente onde todos os membros se sintam seguros e respeitados, independentemente de sua origem, raça, religião ou gênero.

Instamos as associadas e associados a se engajarem ativamente na promoção de um espaço acolhedor e inclusivo dentro de nossa instituição, no qual a diversidade de toda natureza e o respeito aos direitos humanos sejam protagonistas e o respeito mútuo a norma reguladora, como forma de valorizar a dignidade da pessoa humana e os mais altos padrões éticos e morais.


Publicado em 24/03/2024 10h35

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