Comparação com o Holocausto: o que Lula quer dizer com isso

Lula na cúpula africana

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Com a sua comparação historicamente absurda com o Holocausto, Luiz Inácio Lula da Silva causou indignação em todo o mundo. O que está por trás do comportamento do presidente brasileiro?

Atualmente há cartazes pendurados por todo o Rio de Janeiro mostrando o Brasil apresentando-se orgulhosamente como anfitrião do ano da cúpula do G20. Deve ser a grande aparição do governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

Mas pouco antes do início dos negócios dos chanceleres, nesta quarta-feira, o presidente causou um escândalo diplomático.

Comparação de Lula com o Holocausto

Numa conferência de imprensa em Adis Abeba, ele não só descreveu as ações de Israel na Faixa de Gaza como “genocídio” – um rótulo altamente controverso apesar do elevado número de vítimas – mas colocou-o no mesmo nível do Holocausto, dizendo:

“O que está acontecendo ao povo palestino na Faixa de Gaza nunca aconteceu em qualquer outro momento da história. Na verdade, já aconteceu: quando Hitler decidiu matar os judeus.”

Isto não é apenas historicamente absurdo. É também a maior provocação verbal possível de Israel.

Conflito após declaração de Lula: Brasil convoca embaixador de Israel

Grande indignação em casa e no exterior

No dia seguinte, a resposta interna e externa foi esmagadoramente devastadora. Israel convoca o embaixador do Brasil não ao Itamaraty, mas ao memorial do Holocausto Yad Vashem para lhe dar uma aula de história diante da imprensa reunida. Israel então declara o presidente Lula “persona non grata”.

O veredicto da imprensa brasileira varia de “ignorante na melhor das hipóteses” a “imperdoável” e “queda presidencial em desgraça”.

A questão é: por que Lula age assim?

Nos círculos governamentais brasileiros eles não se intimidam. O representante de Lula nas relações exteriores, Celso Amorim, enfatiza que Lula não se desculpará em hipótese alguma, ele “apenas citou fatos históricos”. Amorim deve saber que isso não é verdade.

Embora os nazis tenham tentado assassinar sistematicamente todos os judeus simplesmente porque eram judeus, nada comparável está acontecendo na Faixa de Gaza, apesar de toda a brutalidade e crueldade da guerra israelense. Portanto, pode haver cálculo por trás desta falsa afirmação.

Avaliação de um especialista

“Poderia ser uma estratégia para fortalecer a lealdade de parte da base de esquerda [seu partido dos trabalhadores, o PT], com a qual Lula tem dificuldades”, disse Guilherme Casarões, especialista em relações internacionais da universidade privada Fundação Getulio Vargas, em São Paulo. a ZDF.

É importante que Lula pacifique o campo de esquerda, que tradicionalmente tem laços estreitos com organizações palestinas e onde, segundo Casarões, existem “elementos que poderiam ser descritos como antissemitas pelos nossos padrões”.

Procure um novo papel para seu país

No que diz respeito à sua auto-imagem como um carismático construtor de pontes e mediador, Lula pode ter-se marginalizado na segunda crise política global após a sua relativização da campanha da Rússia na Ucrânia.

Novamente, isso pode não ser um descuido. Depois da doutrina da equidistância aplicada há décadas no Brasil – a mesma distância de todos os grandes atores para permanecer o mais manobrável possível – Lula busca um novo papel para seu país:

“Lula está comprometido com um caminho de política externa que não é necessariamente antagônico ao do Ocidente, mas que também não está alinhado. O Brasil quer seguir esse caminho como líder do sul global [ao lado de países como África do Sul e Índia], além da Rússia e da China”, diz Casarões.

A mensagem de Lula ao Ocidente

Embora a sua política seja também antiocidental, dificilmente são compatíveis com um pós-colonialismo autoconfiante no Sul, o que é demonstrado pelo comportamento imperialista de ambos os países em relação à Ucrânia e a Taiwan.

Às vésperas do início do G20, a estratégia de Lula em relação ao Ocidente pode não ser tão problemática como sugerem os seus comentários.

Se Lula conseguir prosseguir uma espécie de terceira via no cenário mundial como representante de um Sul global independente, poderá continuar sendo um parceiro do Ocidente. Mesmo que já não seja tão previsível como foi durante o seu primeiro mandato, entre 2003 e 2010.


Publicado em 21/02/2024 18h44

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