Judeus brasileiros condenam deboches ‘anti-semitas’ dirigidos a economista nascido em Israel

O economista judeu brasileiro Ilan Goldfajn. Foto: Reuters/Agência de Notícias América Latina

A comunidade judaica do Brasil reagiu furiosamente aos comentários feitos durante uma entrevista na televisão em que um economista judeu sênior foi descrito usando alegorias anti-semitas.

Os comentários sobre Ilan Goldfajn – o recém-eleito presidente do Banco Interamericano de Desenvolvimento – foram feitos durante uma discussão no programa de televisão Jornal GGN. Um dos participantes, Paulo Nogueira Batista Jr – um economista e ex-funcionário do Fundo Monetário Internacional – argumentou que Goldfajn seria hostil ao recém-instalado governo de esquerda do presidente brasileiro Luiz Inácio Lula da Silva, citando seu judaísmo como um dos principais motivos.

“Ele é essencialmente um financista, ligado ao Tesouro dos EUA, à comunidade judaica. Na verdade, ele é judeu-brasileiro, nascido em Haifa, Israel. E a comunidade judaica tem forte presença no Tesouro dos Estados Unidos, no Fundo Monetário, em organismos internacionais, não apenas em bancos privados”, disse Batista. “Como brasileiro, a única coisa que ele tem é o passaporte.”

Batista também zombou do sobrenome de Goldfajn, chamando-o de “impronunciável” por não ser de origem portuguesa.

Goldfajn, de 56 anos, é ex-presidente do Banco Central do Brasil. Nascido em Haifa em 1966, ele deixou Israel ainda jovem e foi criado no Rio de Janeiro, onde frequentou uma escola judaica e é um membro ativo da comunidade judaica brasileira.

Embora a discussão original tenha sido transmitida em 16 de dezembro, os grupos judeus não emitiram seus primeiros protestos até quase dez dias depois.

“Associar os judeus ao dinheiro e ao poder nos remete aos piores momentos da história da humanidade, que culminaram na perseguição e morte de nossos antepassados”, declarou a Federação Judaica de São Paulo em nota.

A Confederação Israelita Brasileira (CONIB), o principal órgão guarda-chuva da comunidade judaica, disse que os comentários de Batista invocaram “velhos clichês anti-semitas usados por fascistas e racistas para vilipendiar um cidadão brasileiro que tanto contribui para o nosso país”.

Separadamente, o Instituto Brasil-Israel criticou o apresentador do programa, Luis Nassif, por sua afirmação de que os comentários de Batista eram “xenófobos”, mas não “anti-semitas”.

“As declarações são antissemitas como num manual de antissemitismo, estabelecendo a clássica relação entre judeus e dinheiro, acionando a tese de uma conspiração judaica e até repetindo uma lógica que priva os judeus da possibilidade de serem brasileiros”, afirmou o Instituto.

Em artigo publicado na segunda-feira, Nassif repetiu sua insistência de que os comentários de Batista não eram antissemitas.

“É um fato inegável que existe uma forte comunidade financeira judaica, assim como existe uma forte comunidade de cambistas libaneses no Brasil”, escreveu Nassif.

[Lula é contra a indicação de Goldfajn e até pediu ao BID o adiamento da eleição para que pudesse indicar um candidato próprio, o que foi negado.]


Publicado em 29/12/2022 11h44

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