Vozes da imprensa árabe: A suposta vitória contra os Estados Unidos

QUEIMANDO as bandeiras AMERICANA e israelense em protesto às negociações sobre as fronteiras marítimas em disputa com Israel, em Naqoura, perto da fronteira libanesa-israelense, 11 de novembro.

(crédito da foto: AZIZ TAHER / REUTERS)


As relações libanesas-americanas passaram por muitos altos e baixos. No entanto, parece-me que, recentemente, tornou-se moda entre as pessoas no Líbano zombar da América e falar sobre isso com sarcasmo. Slogans anti-Washington tornaram-se comuns no Líbano, incluindo a disseminação de teorias conspiratórias infundadas sobre a política americana na região.

A realidade, no entanto, é que desejar que a América se afaste não alcançará nada para o Líbano. Amaldiçoar a América e espalhar mentiras sobre seus motivos não mudará a realidade local.

Aos olhos dos americanos, o Líbano é um estado falido devastado pela corrupção e pelo caos. O que Washington se preocupa – e, em última análise, a razão de sua intervenção no Líbano – é garantir um grau básico de estabilidade no país a fim de proteger o principal aliado dos Estados Unidos na região, Israel.

Os Estados Unidos querem criar estabilidade melhorando as condições econômicas e sociais do Líbano, desenvolvendo setores econômicos produtivos, promovendo oportunidades de investimento e criando novas oportunidades de emprego. Ironicamente, é exatamente por isso que o cidadão libanês médio ora. Os Estados Unidos querem ver um exército forte e centralizado no Líbano que demonstre que o estado está no comando de sua própria soberania e que pode enfrentar os perigos do terrorismo. Com base nessa dinâmica, os Estados Unidos podem, de fato, ser uma mais-valia para o Líbano, pois seus interesses costumam convergir com os do público libanês.

A recente negociação entre Israel e Líbano sobre a demarcação da fronteira marítima dos dois países é um exemplo recente de como pode ser importante o papel americano na região.

Antagonizar os Estados Unidos e descartar seu papel na região não é apenas absurdo, mas também contraditório aos interesses do Líbano. Seria sensato pensar nas relações de nosso país com Washington de forma mais estratégica e lembrar que, em relações assimétricas desse tipo, é sempre a superpotência que dá a palavra final. No final do dia, as perdas para o Líbano em um conflito com os EUA superarão em muito qualquer um de seus benefícios potenciais. – Bassam Abou Zeid

BIDEN, O GOLFO E O IRÃ

Asharq al-Awsat, Londres, 10 de novembro

O confronto com as atividades agressivas do Irã marcou a política dos Estados do Golfo por quase quatro décadas e ainda é o principal motor que molda suas políticas e alianças.

A medida preventiva tomada pelos Emirados Árabes Unidos e Bahrein para estabelecer relações abrangentes com Israel pavimentou o caminho para lidar com as mudanças que se aproximam, incluindo a nova presidência dos EUA. Existem questões que se sobrepõem entre o Golfo e Israel. O inimigo comum do Golfo e dos israelenses hoje é o regime de Teerã, que adota explicitamente um projeto que ameaça a segurança e a existência de todos esses países.

O governo de Joe Biden limitará ainda mais a expansão do Irã, sinalizando que os EUA apoiarão seus aliados na região. Biden apontou dois erros cometidos pela equipe do ex-presidente Barack Obama quando ele negociou com o Irã e assinou o Plano de Ação Conjunto Global.

A primeira é que as obrigações nucleares do Irã no acordo não o impedem de construir um sistema balístico, o que é uma falha grave. Agora faltam apenas cinco anos para o período em que o Irã não tem permissão para enriquecer urânio. Esta é uma curta espera por um regime paciente que é determinado e insiste em possuir uma arma nuclear no longo prazo.

O segundo erro é que o acordo deixou de frear as ameaças regionais do Irã usando suas armas convencionais, bem como sua busca por mudança e controle em países como Líbano, Síria, Iraque, Golfo, Iêmen e Afeganistão. Não consigo imaginar a paz com o Irã sem modificar o acordo, e Biden reiterou essa posição uma e outra vez – dirigindo suas palavras aos mulás, que monitoraram de perto suas declarações durante a campanha.

Teerã provou que nunca é confiável, mesmo pela equipe americana que assumiu sua boa vontade. Um caso em questão foi a detenção humilhante de marinheiros dos Estados Unidos durante o fim da era Obama, embora Obama tenha sido o único presidente que deu ao Irã sua maior oportunidade.

Duas novas realidades criadas na era Trump continuarão durante o governo Biden. Isso inclui a estreita aliança entre a Arábia Saudita, Egito, Emirados e Bahrein, bem como a estreita coordenação de segurança com Israel diante do Irã.

O Catar tentará desmantelar a coalizão, mas não terá sucesso. Irã e Turquia, apesar de tentarem trabalhar juntos contra essa aliança, enfrentam dificuldades devido às expectativas conflitantes entre os dois países, além da péssima situação econômica que cada país atravessa.

Portanto, sinto-me cautelosamente otimista quanto à vitória de Biden, sem subestimar os desafios que seu governo terá de enfrentar no futuro próximo. – Abdulrahman al-Rashed

O MUNDO PERDIDO DAS BIBLIOTECAS DA UNIVERSIDADE

Al-Riyadh, Arábia Saudita, 11 de novembro

Houve uma época em Riade em que as pessoas não ficavam grudadas nas telas de seus telefones e os locais mais populares da cidade eram, na verdade, bibliotecas.

Lembro-me daqueles dias, quando era um jovem estudante universitário que visitava as gloriosas bibliotecas de nosso país para enriquecer meu conhecimento e viajar, por meio de livros, para terras distantes. Lembro-me especificamente da biblioteca do Centro de Pesquisa e Estudos Islâmicos King Faisal, que eu costumava frequentar muito. Tem muitos livros exclusivos que não estavam disponíveis em outras bibliotecas. Lembro-me de passar horas naquele prédio, lendo textos históricos e escritos islâmicos. Quando encontrava um livro interessante, fazia cópias de algumas páginas para poder continuar a lê-lo em casa. Até hoje, ainda tenho uma pilha de trechos de livros que fotocopiei há mais de 20 anos.

Não se engane: eu não era o único que amava aquela biblioteca. A maioria dos alunos que eu conhecia gostava de passar o tempo nele, se não pelos livros, então pela bela arquitetura do prédio e a atmosfera única dentro dele.

Lembro-me da mesquita ao lado da biblioteca, na qual orava com frequência, e às vezes os fiéis iam à biblioteca para olhar os livros.

Outra biblioteca que adorei foi a Biblioteca Nacional King Fahd, onde vários autores notáveis, incluindo Abdullah Abdul Mohsen, Muhammad al-Qasimi e Abd al-Karim al-Juhayman, costumavam trabalhar. Eu costumava encontrá-los sentados lá, trabalhando em seus manuscritos. Foi lá que alguns dos livros mais importantes sobre a história social, cultural e política da Arábia Saudita foram escritos.

Essas bibliotecas foram locais de pesquisa, discussão e aprendizagem. Eles nos forneceram uma plataforma para engajar

Essas bibliotecas foram locais de pesquisa, discussão e aprendizagem. Eles nos forneceram uma plataforma para nos envolvermos com diversas ideias e expandir nossos horizontes. E eles foram a peça central de nossa experiência educacional. Antes que as plataformas de mídia social corrompessem nossas mentes e nos confinassem em nossas telas, havia um mundo especial e vigoroso de bibliotecas que chamava nossa atenção. – Hasan al-Mustafa


Publicado em 18/11/2020 16h14

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