Eleições palestinas: dando um golpe na democracia ou em Israel?

Presidente palestino Mahmoud Abbas | Foto: AP / Alaa Badarneh / Pool

É bem possível que o anúncio da eleição fosse dirigido aos ouvidos do novo inquilino da Casa Branca. Na verdade, o governo Biden provavelmente será mais receptivo à bem ensaiada e falsa apresentação da democracia que Abbas tentará vendê-la.

Mahmoud Abbas é presidente da Autoridade Palestina há 16 anos e, em seu nome, ele governa a população palestina na Judéia e Samaria. Até agora, porém, ele evitou vigorosamente realizar eleições e não sente que precisa delas para ganhar legitimidade aos olhos do mundo ou de seus súditos.

Sempre foi possível culpar Israel por impedir tais eleições. Mas, verdade seja dita, o próprio Abbas não os queria e até os temia. Afinal, as últimas eleições, em 2006, foram calamitosas para ele e para os palestinos em geral.

Semelhante a outras sociedades do Oriente Médio, desacostumadas e despreparadas para o processo democrático, também no caso palestino o movimento Hamas conquistou a maioria, abrindo caminho para tomar o controle da Faixa de Gaza. Hoje, as FDI e outras forças de segurança de Israel são essencialmente as que impedem o Hamas de assumir o assento de Abbas em Ramallah. Abbas está bem ciente desse fato. Agora, porém, ele alterou o curso e até chegou a um acordo com o Hamas, embora bastante suspeito.

Em primeiro lugar, dificilmente podemos presumir que Abbas começou a acreditar no Hamas e a confiar nele. Em segundo lugar, a população palestina não parece excessivamente ansiosa ou mesmo interessada nessas eleições. E independentemente, não há pressão do nível do solo para segurá-los.

Abbas vai comemorar seu 86º aniversário este ano, que não é a idade de quem começa uma nova carreira política ou vai a eleições. E de modo geral, na Autoridade Palestina, assim como em outras partes do mundo árabe, os líderes não são escolhidos nas eleições, e sim nos bastidores e às vezes depois de violentas e sangrentas lutas pelo poder. Essas eleições são apenas para aparência e até mesmo falsas, destinadas a dar legitimidade ao líder depois que ele já conquistou o poder.

É possível que o anúncio eleitoral fosse dirigido aos ouvidos do novo inquilino da Casa Branca, com o objetivo de inaugurar uma nova era nas relações entre os palestinos e Washington. Na verdade, o governo Biden provavelmente será mais receptivo à bem ensaiada e falsa apresentação da democracia que Abbas tentará vendê-la.

De qualquer forma, essas eleições declaradas na Autoridade Palestina representam um dilema para Israel. Em 2006, sob pressão da amigável administração de George W. Bush, Israel permitiu que o Hamas corresse, apesar da recusa da organização terrorista em reconhecer os Acordos de Oslo. Os resultados são conhecidos e, desta vez, Israel não pode cair na mesma armadilha ou sucumbir a pressões semelhantes.

De qualquer forma, é duvidoso que sejam detidos. Mas mesmo que os palestinos se dirijam às urnas, essas eleições, no máximo, podem mudar algumas das faces que nos acostumamos a ver, mas certamente não trarão nenhuma mudança real no terreno.


Publicado em 17/01/2021 17h11

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