Analistas oferecem prós e contras do acordo marítimo com o Líbano, mas concordam que não tornará Israel mais seguro

O gabinete de segurança de Israel vota a favor de um acordo marítimo e de gás com o Líbano que foi mediado pelos Estados Unidos, 12 de outubro de 2022. Crédito: Amos Ben-Gershom/GPO.

Críticos dizem que Israel deu ao Líbano 100% de sua posição inicial de negociação.

O recente acordo de fronteira marítima Líbano-Israel pode ser benéfico economicamente, mas não beneficiará a segurança de Israel, disseram analistas durante um webinar de política organizado pelo Instituto Judaico de Segurança Nacional da América (JINSA) na quinta-feira. A opinião deles sugere que o primeiro-ministro israelense Yair Lapid exagerou os benefícios do acordo.

“Acho que economicamente é um bom negócio. Estrategicamente, podemos enfrentar muitos problemas como consequência disso”, disse o major-general da IDF (aposentado) Yaakov Amidror, ex-assessor de segurança nacional israelense.

O acordo resolve um desacordo sobre um trecho de 330 milhas quadradas de território rico em gás que tanto Israel quanto o Líbano alegaram estar em suas zonas econômicas exclusivas. Um compromisso para dividir a área em 55% para o Líbano e 45% para Israel foi proposto durante o governo Obama, mas nunca se concretizou.

No acordo atual, aprovado pelo governo de Israel na quarta-feira e pelo do Líbano na quinta-feira, os críticos dizem que Israel deu ao Líbano 100% de sua posição inicial de negociação. Dando credibilidade às acusações dos críticos foi a renúncia repentina do principal negociador de Israel, Ehud Adiri, uma semana antes do anúncio do acordo com o Líbano.

Os opositores do acordo, entre eles o líder da oposição Benjamin Netanyahu, também reclamaram que o acordo era uma capitulação ao Hezbollah, um representante iraniano e a força mais poderosa no Líbano. Em julho, o grupo terrorista lançou três drones desarmados em uma plataforma de gás israelense, e o líder do Hezbollah, Hassan Nasrallah, alertou que “ninguém” perfuraria gás enquanto os “direitos” do Líbano de extrair gás não fossem respeitados.

Amidror disse que sua questão central era como Nasrallah reagiria. “Qual será a avaliação de Nasrallah? – Se, sentado com seu povo, ele disser: ‘Gente, nós vencemos. Israel desmoronou sob a pressão. – Os israelenses recuaram porque não querem outra guerra com o Hezbollah, e vamos pensar qual será o próximo espaço em que podemos chantageá-los.’ – pode levar a uma escalada”, disse Amidror.

David Schenker, secretário de Estado assistente para assuntos do Oriente Próximo durante o governo Trump, compartilhou a preocupação de Amidror durante o webinar da JINSA. “A grande questão para mim é se este acordo torna Israel mais seguro. E é isso que estamos ouvindo do governo israelense. Isto é o que ouvimos do IDF. Acho que deve ser determinado. Poderia ir de qualquer jeito. E o problema do Hezbollah não desaparece por causa deste acordo. Isso pode agravar o problema”, disse.

Schenker também ofereceu uma nota positiva, dizendo que o acordo basicamente transformaria o Hezbollah e seus aliados cristãos libaneses em parceiros de negócios de Israel. “O governo israelense conseguiu – [eles] – assinar um documento que essencialmente reconhece Israel. Isso nunca foi feito. – Isso desacredita o Hezbollah em casa [e] mina um pouco a narrativa de resistência”, disse Schenker.

Amidror disse que os proponentes do acordo argumentaram que o que importa é que Israel possa começar a perfurar imediatamente, algo “mais importante do que todas as linhas simbólicas no mar”. Ele concordou que, com a ameaça do Hezbollah, pelo menos temporariamente engavetada, as empresas de petróleo e gás concordarão mais prontamente em explorar a área.

Os EUA concordaram em mediar entre a gigante petrolífera francesa TotalEnergies e Israel. A TotalEnergies perfurará em águas libanesas e, como parte do acordo, Israel receberá uma porcentagem da receita do gás que se estende pela linha libanesa até as águas israelenses. Os EUA também disseram que garantiriam a segurança e os direitos econômicos de Israel caso o Hezbollah contestasse o acordo. Os EUA forneceram a Israel uma carta nesse sentido, disseram fontes israelenses.

“É um jornal de relações públicas. Legalmente, ninguém é obrigado a cumprir”, disse Amidror. Schenker concordou, dizendo: “Esta carta, se existir, não tem peso legal”.

Ambos os analistas expressaram preocupação de que alguns dos fundos de um ganho inesperado de gás offshore possam acabar nas mãos do Hezbollah. “Acho que os libaneses já temem que esse dinheiro desapareça no abismo da corrupção”, disse Schenker. “Não há transparência. O estado não tem um fundo soberano. Já existem contratos – da Total e outros para empresas de fachada que são parcialmente detidas por algumas das elites políticas mais corruptas do Líbano.”

“Podemos esperar que isso não apenas ajude os aliados do Hezbollah a se beneficiarem, mas que o Hezbollah, até certo ponto, também se beneficie”, disse ele.


Publicado em 15/10/2022 17h29

Artigo original: