Uma audiência no tribunal de Moscou iniciada pelo Ministério da Justiça da Rússia em uma tentativa de encerrar as operações locais da Agência Judaica foi adiada por um mês.
O atraso foi anunciado na sexta-feira pelo Tribunal Distrital de Basmanny, na capital russa, após uma petição apresentada por advogados da Agência, que auxilia judeus que desejam emigrar para Israel. A invasão da Ucrânia pela Rússia no final de fevereiro desencadeou um êxodo em massa de judeus da Rússia, Bielorrússia e Ucrânia.
De acordo com números do governo israelense, 20.246 russos emigraram para Israel entre janeiro e julho de 2022, com números subindo de cerca de 700 por mês em fevereiro para mais de 3.000 em março. Por outro lado, em todo o ano de 2019, 15.930 russos emigraram para Israel.
Outros 35.000 judeus russos supostamente apresentaram pedidos de imigração e estão aguardando os próximos passos.
O tribunal concordou com um adiamento de um mês depois de rejeitar a petição inicial apresentada pela Agência Judaica, que pedia que a audiência fosse substituída por um “procedimento de conciliação de dois meses” – uma proposta sumariamente contestada pelos representantes do governo russo. O juiz concordou com um atraso de 30 dias, período durante o qual a Agência terá a oportunidade de “formar uma posição sobre novas provas escritas e tentar eliminar as violações identificadas”, informou o jornal russo Kommersant.
“Estamos estudando novos documentos anexados ao caso. Esperamos que a organização continue trabalhando na Rússia”, disse Andrey Grishaev, advogado da agência, a repórteres do lado de fora do prédio do tribunal.
O Ministério da Justiça anunciou sua oferta legal para encerrar as operações da Agência Judaica na Rússia no final de julho. O ministério alega que a Agência violou a lei russa por supostamente manter um banco de dados de cidadãos russos planejando fazer Aliyah.
A posição formal da Rússia é que o caso contra a Agência Judaica é baseado apenas em considerações legais, e não políticas.
“A situação não deve ser politizada ou projetada na totalidade das relações russo-israelenses”, explicou Dmitry Peskov – porta-voz do presidente russo Vladimir Putin – no mês passado.
“Há questões do ponto de vista do cumprimento da lei russa”, disse ele, acrescentando: “Esta situação deve ser tratada com muito cuidado”.
Separadamente, o próprio Putin teria dito ao presidente israelense Isaac Herzog que o caso contra a Agência Judaica era uma questão puramente legal durante um telefonema recente.
No entanto, autoridades ucranianas e israelenses acreditam que a ameaça de fechamento enfrentada pela Agência Judaica foi exacerbada pelo apoio diplomático e humanitário israelense à Ucrânia. Na semana passada, Natan Sharansky – o ex-dissidente judeu soviético que mais tarde serviu como chefe da Agência Judaica – disse ao serviço de língua russa da Voz da América que a Rússia estava examinando maneiras de pressionar seus adversários.
“Eles estão tentando pressionar países diferentes. Eles estão assustando a Alemanha com o fato de que as pessoas começarão a morrer de frio no inverno”, disse Sharansky, referindo-se às sanções internacionais ao setor de energia da Rússia, que fornece à Alemanha 55% de seu gás natural.
“Da mesma forma, eles estão começando a nos pressionar, usando a Agência Judaica”, continuou Sharansky, que serviu no comando da agência de 2009 a 2018.
O Tribunal Distrital de Basmanny, onde o caso será julgado, tem uma reputação entre os dissidentes russos por julgamentos politicamente tendenciosos. Mikhail Khordokovsky – que já foi o empresário mais rico da Rússia que foi preso após um julgamento falho em 2005 – cunhou o termo “justiça Basmanny” para descrever “a completa subjugação do judiciário à vontade do regime” na Rússia.
Publicado em 20/08/2022 12h25
Artigo original: